A Google utiliza o julgamento sobre as pesquisas para convocar os seus rivais OpenAI, Perplexity e Microsoft a testemunhar

Na fase de alegações do julgamento sobre o motor de pesquisa da Google, a empresa citou três dos seus maiores concorrentes no domínio da inteligência artificial: OpenAI, Perplexity AI e Microsoft.

As citações, enviadas em outubro, tornaram-se públicas nesta segunda-feira através de documentos legais apresentados pelas quatro empresas envolvidas. A revelação coincidiu com o encerramento dos argumentos finais no julgamento sobre práticas anticompetitivas no mercado de AdTech, onde a empresa enfrenta o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ).

A Google busca informações para argumentar que há uma concorrência crescente no mercado de pesquisas, baseando-se no argumento de que as tecnologias mais recentes impulsionaram o crescimento das ferramentas de busca alimentadas por IA. Segundo os documentos legais, a Google solicita informações-chave:

  • OpenAI: Dados de uso do ChatGPT, acordos de distribuição, contratos com a Microsoft sobre a API do Bing Search, acordos com a Perplexity e detalhes sobre os dados utilizados para treinar os seus modelos. Também são requeridas atas de reuniões de diretoria e estratégias publicitárias.

  • Perplexity AI: Dados de utilizadores ativos, acordos de licenciamento de conteúdo, planos de monetização e comunicações com o DOJ e outras autoridades. Além disso, pede-se informações sobre acordos de distribuição e a perceção da empresa sobre o panorama competitivo das buscas.

  • Microsoft: Documentos sobre acordos com a OpenAI e a Perplexity, detalhes sobre dados utilizados para treinar modelos de IA e licenças de conteúdo, incluindo acordos exclusivos.

Respostas legais

Cada empresa respondeu de forma distinta. A OpenAI aceitou fornecer alguns documentos, mas recusou outros, argumentando que a divulgação de dados sobre desempenho financeiro e treino de modelos comprometeria segredos comerciais. A Perplexity, que inicialmente declarou não ter recebido a citação, planeia contestar e entregar os documentos em janeiro. Por sua vez, a Microsoft concordou em cumprir com a maioria das solicitações, exceto as relacionadas a acordos confidenciais.

O caso poderá prolongar os confrontos legais por anos, o que daria a Google mais tempo para melhorar a sua ferramenta Gemini, uma aplicação de busca baseada em IA que compete diretamente com o ChatGPT e a Perplexity. No entanto, especialistas alertam que, se a Google for obrigado a vender o Chrome, a sua posição dominante no mercado de buscas poderá ficar comprometida.

Adam Epstein, co-CEO da adMarketplace, afirmou ao Digiday que manter o controlo da distribuição nas buscas daria a Google vantagem para continuar a melhorar o Gemini, dificultando o sucesso dos seus concorrentes. Por outro lado, Evelyn Mitchell-Wolf, analista da eMarketer, opinou que startups como Perplexity e OpenAI poderão levar anos para ganhar uma fatia significativa do mercado devido à dificuldade de competir com a ubiquidade do motor de busca tradicional da Google.

Próximos passos

À medida que avançam o julgamento sobre o motor de busca da Google e o caso AdTech, especialistas preveem que o mercado continuará atento à fase de recurso em março. Embora o DOJ tenha proposto a venda do Chrome como uma possível solução, não há clareza sobre como as medidas serão aplicadas.

“É difícil prever como será a fase de alegação”, comentou Ari Paparo, especialista em tecnologia publicitária. “Ninguém sabe se será uma audiência, um pedido de documentos ou uma decisão direta. Tudo está por ver.” Os resultados de ambos os julgamentos poderão redefinir o panorama competitivo das buscas e da publicidade digital na era da inteligência artificial.