Apple Ads: reinvenção publicitária ou contradição estratégica?
A Apple decidiu dar mais um passo em direção ao universo da publicidade digital. O que antes conhecíamos como Apple Search Ads passa agora a chamar-se simplesmente Apple Ads. Uma mudança de nome que, apesar de parecer menor, vem carregada de significado.
O que está por detrás desta mudança?
Até agora, a Apple manteve um papel relativamente discreto no setor publicitário, limitando-se a formatos dentro da App Store. No entanto, este rebranding parece antecipar algo maior: uma expansão dos seus espaços publicitários para outros ambientes como o Apple News, o Apple Maps ou a Apple TV. Em outras palavras, a Apple está a montar o seu próprio ecossistema publicitário completo.
Não eram contra a publicidade?
Bem, sim… e não. A Apple sempre se posicionou como a grande defensora da privacidade, criticando a publicidade comportamental, bloqueando cookies e limitando o uso do IDFA com a funcionalidade App Tracking Transparency (ATT). Mas agora que os anúncios são seus, o argumento muda: fazem publicidade contextual. Embora sejamos sinceros — se começarem a apresentar anúncios no Apple Maps com base na tua localização, essa linha ténue entre o contextual e o comportamental vai-se esbater rapidamente.
O contexto económico explica tudo
Esta viragem tem também uma leitura económica: as margens da Apple estão sob pressão. Entre tarifas (olá, Trump!), a pressão regulatória para reduzir a comissão da App Store e o crescimento do hardware que já não deslumbra, a publicidade surge como uma via atrativa para diversificar receitas. E sim, já sabemos que “não há almoços grátis”. Em algum momento, até a Apple tem de ceder.
Este movimento também expõe outra realidade: a Apple já não inova como antes. Aquela que outrora foi a empresa que definia o futuro da tecnologia, hoje parece seguir outros intervenientes do mercado, entrando num “oceano vermelho” onde a concorrência é feroz e as regras são ditadas pela Google, Meta e Amazon. Será este o legado de Steve Jobs? Dificilmente.
Hipocrisia ou maturidade? A paradoxa é evidente: quando se trata de outros, os anúncios são uma ameaça à privacidade; mas quando é a Apple, fala-se de “personalização responsável”. O caso da CNIL francesa contra o ATT levanta essa suspeita. Mas para além das contradições, talvez haja também uma leitura mais humana: todos somos um pouco hipócritas. As empresas não são diferentes. O importante aqui é perceber o valor da troca: se aceitamos anúncios, o que recebemos em troca? No caso da Apple… ainda está por ver.
Uma mudança necessária (e lógica) Há que reconhecer que a mudança de nome também é uma questão prática. O Apple Search Ads deixou de ser apenas “search” há anos. Para os especialistas, o nome fazia sentido, mas para as marcas novas no ecossistema, a explicação criava mais confusão do que clareza. Chamá-lo Apple Ads alinha simplesmente o nome com a realidade do produto. E, talvez, com a realidade do negócio.