87% dos líderes de meios de comunicação afirma que a IA transformará ainda mais as redações em 2025

O ano de 2025 assinalará um ponto de viragem para o jornalismo e os meios digitais. De acordo com o relatório “Journalism, Media, and Technology Trends and Predictions 2025 do Instituto Reuters, a Inteligência Artificial (IA) não só está a revolucionar a forma como as notícias são criadas e consumidas, mas também como os meIos de comunicação interagem com as suas audiências e geram receitas.

Embora persistam desafios económicos, políticos e tecnológicos, os líderes do setor veem na IA uma oportunidade única para redesenhar modelos de negócio, personalizar conteúdos e responder às expectativas das novas gerações de consumidores. No entanto, a implementação desta tecnologia levanta questões sobre o equilíbrio entre inovação e preservação dos valores fundamentais do jornalismo.

Personalização: a grande aposta para cativar audiências

A personalização surge como o principal motor da transformação mediática impulsionada pela IA. Ferramentas avançadas estão a permitir que os meIos de comunicação adaptem formatos e conteúdos às preferências individuais dos utilizadores, melhorando a experiência de consumo e aumentando o envolvimento. Segundo o relatório, 75% dos publishers planeiam usar tecnologias que transformem textos em áudios, enquanto 70% estão a explorar a implementação de resumos gerados por IA no início das notícias. Além disso, mais de metade considera utilizar interfaces de pesquisa baseadas em IA para oferecer interações mais dinâmicas e relevantes.

“Estamos numa nova era onde a personalização é crucial. As audiências querem conteúdos relevantes, no seu idioma e no formato que preferem. A IA permite-nos responder a essa procura com uma rapidez sem precedentes”, explica um executivo citado no estudo. Estas iniciativas são vistas como um esforço para recuperar a ligação com os utilizadores mais jovens, que têm migrado massivamente para plataformas como TikTok e Instagram, em detrimento dos meios tradicionais.

Monetização: esperança em tempos de incerteza

O potencial económico da IA é outro foco central para 2025. Cerca de 36% dos publishers inquiridos esperam que as receitas provenientes de licenças com plataformas tecnológicas se tornem uma fonte importante de financiamento. Este número duplica as expectativas do ano anterior, refletindo o crescente interesse de empresas como OpenAI, Amazon e Google em integrar conteúdos confiáveis de meios de comunicação nos seus serviços de IA, como o ChatGPT e o Google Discover.

Contudo, as condições destes acordos geram controvérsias. Enquanto alguns grandes meios fecharam contratos lucrativos, publishers menores denunciam a falta de equidade nas negociações. Tai Nalon, diretora da organização brasileira Aos Fatos, alerta para um “neocolonialismo mediático”, onde grandes conglomerados monopolizam os benefícios, excluindo os atores locais.

“A indústria deve trabalhar em acordos coletivos que garantam uma distribuição justa das receitas e evitem que os pequenos publishers sejam marginalizados neste ecossistema”, sublinha Nalon.

Motores de busca e IA: ameaça ou nova oportunidade?

A mudança na dinâmica dos motores de busca, impulsionada pela IA, representa uma ameaça existencial para os meIos de comunicação. Ferramentas como o ChatGPT e o Perplexity estão a integrar resumos automáticos que reduzem a necessidade de os utilizadores clicarem em links para os sites de notícias. Embora o Google assegure que estas funções aumentam os cliques por link visível, os publishers temem que a diminuição de links disponíveis afete significativamente o tráfego.

“Se as audiências conseguirem aceder à essência das nossas notícias sem nos visitar, perdemos não só tráfego, mas também uma parte crucial da nossa capacidade de monetização”, alerta José Antonio Navas, chefe de subscrições de El Confidencial. Perante esta realidade, os meios intensificam os esforços para diversificar as fontes de tráfego e aumentar a dependência das suas próprias plataformas.

IA e conteúdos gerados automaticamente: uma arma de dois gumes

Com a proliferação de conteúdos gerados automaticamente por IA, surge o desafio de diferenciar conteúdos de alta qualidade do chamado “AI slop” (conteúdos de baixa qualidade gerados automaticamente). Segundo o relatório, este fenómeno pode saturar o mercado e minar a confiança do público, especialmente se esses conteúdos forem usados como fontes de treino para novos modelos de IA.

“É essencial que a indústria estabeleça padrões claros, como o uso de metadados de transparência, para garantir que os algoritmos priorizem conteúdos de qualidade”, afirma um especialista em tecnologia citado no relatório.

Equilíbrio entre tecnologia e valores jornalísticos

Apesar dos desafios, mais de metade (56%) dos líderes do setor acredita que as suas organizações prosperarão em 2025, utilizando a IA para fortalecer os modelos de negócio. As prioridades incluem a criação de novos produtos para diversificar receitas, como subscrições que combinem notícias com conteúdos de estilo de vida, jogos ou educação. Além disso, o uso da IA para agilizar processos nas redações, como verificação de dados e automação de tarefas editoriais, promete transformar a forma como a informação é produzida.

Contudo, os líderes concordam que a IA não pode substituir os valores fundamentais do jornalismo. “A tecnologia deve complementar, e não substituir, o papel humano na geração de notícias. A confiança do público depende da nossa capacidade de oferecer conteúdos originais, rigorosos e relevantes”, conclui o relatório.

O estudo do Instituto Reuters revela que 2025 será um ano decisivo para o jornalismo, marcado pela adoção massiva da IA como ferramenta transformadora. À medida que as audiências exigem experiências personalizadas e os desafios económicos pressionam os meios de comunicação, o sucesso dependerá da capacidade de integrar a tecnologia de forma eficaz, sem comprometer a integridade e os valores fundamentais do jornalismo. Num ambiente digital cada vez mais competitivo, os meios enfrentam o desafio duplo de aproveitar a inovação e redefinir o seu valor.